A Comunidade de Palmeiras do Javari

Hoje vou descrever um pouco da Comunidade de Palmeiras de Javari. Tenho certeza que as fotos falam muito mais que palavras e traduzem de fato como é a vida nessa Comunidade.    

As  pessoas da comunidade vivem em casas de uma madeira (paxiuba) da região e vocês podem reparar que as casas ficam sobre vigas de madeiras, tipo palafitas; eu pensei que era por causa das cheias do rio que alagava o local e também para segurança contra animais rasteiros, mas fiquei sabendo que casas de madeiras não podem ser construídas diretamente sobre o solo, pois as madeiras não agüentam. 

Um detalhe sobre a paxiuba é que os índios aqui da região também a utilizam para fazer lanças, arcos e frechas.

Como aqui é um lugar isolado dos centros urbanos, fiquei curioso para saber como as pessoas daqui faziam para sobreviver, e, me informaram que algumas poucas estão aposentadas, outras trabalham nas obras da escola que vão durar mais alguns meses, outros trabalham temporariamente nas obras de ampliação do Aeroporto da Comara e o restante não tem emprego, vivem da pesca, da caça e do que plantam. Aqui eles tem o hábito de plantar mandioca e dela fazem farinha para vender.

A grande maioria das pessoas que vivem aqui são casadas eatem  filhos. As crianças daqui não terão muita expectativa de mudança em suas vidas no futuro se permanecerem por aqui, pois, apesar de a escola fornecer estudo e educação, aqui não existe oportunidade nenhuma de fazer uma faculdade ou aprender uma profissão, por isso, a maioria acaba virando peão de obra e assim eles vão levando a vida. As mulheres ficam em casa fazendo os afazeres domésticos e cuidando dos filhos que não são poucos.

Algumas crianças sempre estão por aqui nas nossas casas querendo trocar um cacho de banana, cupuaçu, mamão, limão ou mandioca por comida ou dinheiro, aliás o dinheiro aqui é muito escasso, pois os militares que vem pra cá fazem todas suas transações financeiras pela internet, por isso nós trazemos pouco dinheiro, só o necessário. O Banco do Brasil está colocando terminal aqui, o que facilitará em muito as coisas por aqui.

As crianças estudam na Escola Estadual local, são 07 (sete) professoras para dar conta de uns 130 alunos do ensino fundamental e médio. Em contato com alguns professoras, elas nos conta que algumas crianças de 12 anos em diante param de frequentar as aulas e quando se vai verificar o que aconteceu, os pais informam que a criança se juntou com alguém para constituir família e com muitos afazeres como dona de casa e muitas vezes também por estarem grávidas. Está é uma situação local e cultural, não adianta se falar que é apenas uma criança que não tem jeito, e para evitar desentendimento com os pais, as professoras tem que fazer vista grossa. 

É difícil de imaginar uma criança de 12 anos grávida e tudo parecer normal, em outras locais do Brasil, isso seria considerado um abuso, um desrespeito, e inclusive passível de punição por lei. Mais aqui nesse lugar, como fala um amigo meu “onde Judas perdeu as meias”, isso é normal, é cultural, e como não existe Conselho Tutelar, aliás aqui é um local desprovido de quase tudo, as coisas continuam desse jeito e vão continuar sempre, e não é de assustar mais, ver crianças (mãe) educando crianças, pois até 17 anos pra mim, é uma adolescente sem preparo nenhum pra ser mãe.

  

 

Outro problema muito frequente aqui é as doenças da região, a mais famosa dela é a MALÁRIA, e aqui na comunidade você vê casos de pessoas que já pegaram malária 8 ou mais vezes no mesmo ano!! Há muito tempo considerava-se que esta doença era provocada pelo ar fétido dos pântanos, daí o nome “malária”, que significa “mau ar”.

         (Mosquito da Malária)

Existe 4 tipos de malária humana: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale. P. vivax e P. falciparum são as formas mais comuns, sendo P. falciparum o tipo mais mortífero da infecção. Os sintomas surgem aproximadamente 9 –14 dias após a picada do mosquito Anopheles fêmea, embora este intervalo possa variar com o tipo de plasmódio. Os sintomas típicos da infecção pela malária são:

• Febre alta (40º);
• Suores abundantes;
• Calafrios;
• Dores de cabeça;
• Falta de apetite;
• Náuseas e vómitos;
• Anemia;
• Icterícia (coloração amarela na pele e olhos);
• Cansaço;
• Dores abdominais e corporais;
• Diarréia;

Sintomas idênticos aos da gripe e se não for tratada, a infecção poderá progredir rapidamente e colocar em risco a vida do doente. A malária pode matar ao infectar e destruir os glóbulos vermelhos (anemia) e bloquear os capilares que transportam sangue para o cérebro (malária cerebral) ou outros órgãos importantes. O maior problema é que se a pessoas está contaminada e não faz o tratamento através dos medicamento, ela se torna potencial agente de propagação da doença, pois se um mosquito pica um pessoa doente, e depois ele picar uma pessoa sadia, está ira se contaminar, por isso a importância e a necessidade de se fazer o mais rápido possível o tratamento. E aqui em Palmeiras do Javari, percebe-se que as pessoas da comunidade demoram muito tempo para procurar ajuda no tratamento, algumas chegando aqui em estado avançado da doença e tendo que ser evacuada para Tabatinga com urgência.

Em todos os tipos de malária são usados medicamentos para combater os parasitas que atacam as hemácias. Nas infecções originadas pelo Plasmodium vivax e pelo Plasmodium malariae é necessário acabar com os parasitas que ficam no fígado, para evitar que a doença reapareça. Nos últimos anos os cientistas têm tentado desenvolver uma vacina contra a doença. Uma equipe do Instituto Pasteur (França) liderada pelo médico brasileiro Hildebrando Pereira descobriu cinco das quinze proteínas que podem levar à criação da vacina. Em 1997, Pereira continua as pesquisas no centro de doenças tropicais montado pela Universidade de São Paulo (USP) em Rondônia. Aqui no nosso PEF o exame para malária é feito rapidinho e em algumas horas já se identifica o tipo de malária e o pessoal da seção de saúde fornece o medicamento para o tratamento.Fora a malárias, também temos casos de filariose (elefantíase), hepatite (todas) e leximaniose.

As pessoas daqui consomem muita carne de caça e pesca, então não é raro voce chegar na casa de alguém e eles estiverem comendo carne de anta, cotia, paca, jacaré, macaco ou tracajá (espécie tataruga). O peixe mais apreciado para o consumo aqui é o tucunaré e o surubim, pois não possui espinhas, mas tudo que é pescado é consumido.

   

   (Anta)

                                 

                                                      (Tracajá)

   

  (Paca)

                               

                                                        (Cotia)

Aqui a vida é meio parada, temos poucas opções de divertimento e distração para passar o tempo, estou falando de nós militares que estamoas acostumada com a vida agitada de cidade grande. Quando voce chega aqui é um choque nas duas primeiras semanas, mas depois vai acostumando a passar o final de semana em casa lendo, vendo tv (aqui é obrigatório se tem uma parabólica ou uma sky), video game (quem tem filho tem que ter), computador (é imprescindível, pois quase tudo aqui é feito via internet, inclusive transações bancárias e falar com parentes), para quem gosta de música traga seu violão e para quem gosta de pescar, traga seu material de pescaria com bastante azóis.

Aqui em Palmeiras do Javari só existe 2 mercadinhos e as mercadorias demoram um pouco de chegar, de 15 a 20 dias, devido a distância de Tabatinga, por isso quando chega mercadoria aqui é um corre-corre, pois se deixar pra depois, não vai conseguir comprar o que se quer.

Aqui é assim, uma vida de renuncia, paciência e trabalho.

Um grande abraço,

Ronaldo